terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Eduardo Sá!

Gosto de ti, quero-te e... outros extras com que metemos golos na própria baliza
"-Vamos falar dos sentimentos que, desde sempre, se passeiam dentro de nós. Do perigo que representa fugirmos aos nossos sentimentos, à linguagem dos olhos, ao tocar, ao "desejo-te" ou ao "quero-te", a tudo aquilo que, das duas uma: ou nos leva a estar perto ou nos empurra para longe uns dos outros. - Isso não é um bocadinho "ou carne ou peixe", "ou tudo ou nada"? Para além do perto ou do longe, os nossos sentimentos não darão outras alternativas à relação entre as pessoas? -Dão. Dão o "politicamente correcto" e o "demasiado perto", que são duas formas batoteiras de usarmos os sentimentos para estarmos longe das pessoas. (...) É. O demasiado perto é uma estranha forma de estar longe, estando "em cima" de alguém. E, se reparar, na relação entre as pessoas, o demasiado perto é longe demais. (...) Só há dois tipos de abraços: os que tiram o ar e os que enchem a alma. Confiarmos o nosso corpo a alguém traz tanto medo que um abraço raramente é um gesto firme e apertado entre duas pessoas. Muitos - mesmo muitos - de nós evitam os abraços porque os sentem como gestos tensos, contrafeitos e - sobretudo - como uma proximidade grande demais, que traz medo. Como se o estar perto fosse, para tantas pessoas, tão pouco vivido e experimentando que temem que um abraço lhes roube o ar, em vez de encher a alma. (...) As pessoas têm muito medo que os sentimentos sejam uns extras estranhos com que vêm equipadas! Na verdade, toda a nossa educação se dirigiu no sentido de aprendermos a reprimir aquilo que sentimos. Como se fosse possível sentirmos a beleza do mundo e a das pessoas de uma forma asséptica ou bacteriologicamente pura. Já viu como, fugindo dos nossos sentimentos, fugimos de tudo o que nos permite namorar com a vida? Já viu como fomos todos educados para metermos golos na nossa baliza? (...) Trabalho para casa: descubra o lado pimba que há em si! A sério: fiquem com uma equação para o fim-de-semana. A equação é: como se diz "gosto de ti" cm sinais de fumo? Não será melhor voltarmos ao Jurássico e dizer "gosto de ti" de forma desajeitada, atabalhoada, mas com alma e de olhos nos olhos? Não faz sentido tantos cuidados, quando se trata de nos chegarmos a alguém. Em suma: Não é possível amar, dizendo "gosto de ti" pelo canto do olho!"


És meu, só meu, meu e de mais ninguém
"-Vamos falar de ciúme. E vou já acordá-la dizendo que o ciúme faz melhor que o "Cola Cao". O ciúme é a versão "ultra light" da gula. Na verdade - aqui que ninguém nos ouve -, quando gostamos muito de alguém, queremos essa pessoa toda, toda, toda só para nós.
-Claro que queremos a pessoa toda só para nós. E por isso mesmo custa-me a perceber que o ciúme faça bem. O ciúme faz doer, cansa, e pode mesmo ser destrutivo.
-Se formos espertos, sabemos que o ciúme nos ajuda a perceber que, se dividirmos um bocadinho da pessoa de quem gostamos muito com mais alguém (só um bocadinho), saímos a ganhar. E sempre que não toleramos dividi-la, isso não quer dizer que não tenhamos dúvidas sobre ela, mas que estamos tão inseguros do que valemos para ela que mais vale não a deixar fazer quaisquer comparações porque, senão, perdemos a taça para o mais enfadonho dos companheiros do mundo.
-Mas o que é isso de dividir a pessoa um bocadinho?
-Dividir um bocadinho é perceber que uma pessoa só tem de ser toda nossa quando não faz parte de nós.
-Bom, e depois há aquelas pessoas que respiram ciúme, que se alimentam de ciúme, que são só ciúme, e destroem qualquer relação.
-O ciúme é humano. O delírio de ciúmes é demoníaco. Essas pessoas são pessoas doentes. Pessoas certamente tão marcadas por inúmeras decepções que, para não enlouquecerem com tudo o que as leva a desconfiar do que sentem, desconfiam compulsivamente de quem gosta delas.
-Provavelmente são pessoas com uma auto-estima tão pequenina, tão pequenina, que dificilmente conseguem acreditar que alguém possa, realmente, gostar delas e só delas. Mas quando não é patológico , o ciúme pode ser uma espécie de acendalha de uma relação. Uma chamazinha de ciúme põe-nos em causa, e isso faz com que não nos deixemos "dormir em serviço". Sentir o tapete fugir-nos levemente por debaixo dos pés pode ter essa grande vantagem de nos estimular, não é? De tentarmos conquistar - todos os dias - a pessoa de quem gostamos.
-É. sobretudo porque o ciúme é uma forma de dizermos por outras palavras: "Tenho medo que não gostes de mim!"
O amor é fogo!
"-Quantas paixões devia ter um adolescente antes de descobrir a cara-metade?
-O dia tem 24 horas... Se ele (ou ela) tiver uma paixão de 12 em 12 horas, isto dá...730 paixões por ano! Agora, a sério: Um adolescente devia ter imensos flirts, muitas paixões e alguns namoros. E os namorados, só dão inquietações e insucesso escolar?
-Não, absolutamente! Os namorados dão inquietações, dão insónias, podem dar algumas desatenções nos estudos, mas são o melhor que há para crescer com saúde. Porque é que os adolescentes falam mais facilmente com um amigo ou com uma amiga, por exemplo, do que com o pai ou com a mãe?
-Porque só contamos o mais secreto dos nossos pensamentos a quem desvenda os segredos do nosso coração.
-Ora essa! E quem melhor que o pai ou a mãe para nos conhecer e desvendar o nosso coração?
-O melhor amigo. A confidente. A namorada. Sabe porquê? Porque, para muitos pais, o coração dos adolescentes é um "abre-te sésamo" sem password.
(...) Quando alguém diz - por palavras, actos ou omissões - "não gosto de ti!", está a dizer:"Luta por mim!"... Duas vezes."





Pecar é gostar duas vezes

"(...)Quando se gosta muito de alguém, não se faz um voto de castidade com a vida. Gostar de outra pessoa torna-nos mais sensíveis à beleza: dentro de nós próprios, dentro de quem gostamos e à nossa volta. "Peca-se" mais. E é bom que possamos dizer que pecar (desta maneira) nos vira do avesso. Mas dá sol, por dentro. Obriga-nos a pôr as pessoas de quem gostamos em dúvida. Não deixa que "adormeçamos em serviço" e empurra-nos para questões que nos ensinaram a proibir. Como, por exemplo: Que ganhos me trouxe a pessoa com quem estou? Tornou-me melhor, ensinou-me a ser mais bonito, trouxe-me mais vida? Ou, pelo contrário, mesmo sem querer, levou-me a "deitar fora" tudo aquilo que me arejava a cabeça e tornava o meu coração mais bonito? -Mas não será que pecamos apenas quando o desinteresse por aquela pessoa já se instalou irremediavelmente? Não é desconfortável pecarmos - mesmo que só por pensamentos - tendo, ao lado, o escolhido ou a escolhida? -Pecar (visto desta maneira) é "tão natural como a sua sede" e - sim! - é desconfortável pecar, porque os remorsos fazem um formigueiro no coração, mas são as melhores vitaminas de uma relação. Visto assim, pecar é dizer "gosto e ti"... Duas vezes. Nunca se esqueça: os piores pecadores são os que pecam sem remorsos, e aqueles que sentem remorsos... ainda antes de pecarem."

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

“Diário da tua ausência”

“Nietzsche, que tinha tanto de louco como de sábio, escreveu que a grandeza de um homem está em ser uma ponte e não uma meta. Mas ninguém consegue construir uma ponte sozinho, nem carregar um piano, nem mudar uma casa, por isso aprendi algo mais difícil: aprendi a ficar quieta quando aquilo que mais quero e desejo não depende só de mim. E com essa nova e preciosa lição veio a paz, a tranquilidade, a harmonia dos dias sossegados e das noites de sono profundo. Aprendi muito contigo, com certeza mais do que possas imaginar. Aprendi com os meus erros, porque é quando se perde que a lição é mais importante. Devia ter ficado quieta mais vezes, devia ter respeitado o teu silêncio e o teu espaço, deixar-te em paz em vez de te pedir o mundo, porque iria sempre amar-te, estivesses ou não ao meu lado, porque fazes parte de mim, mesmo sem saber se és a primeira ou a última peça do meu dominó, mesmo sem saber se o vais pôr de pé ou deitá-lo abaixo.O amor tem o seu próprio mistério, tentar desvendá-lo é um erro, tentar apressá-lo um crime. Se um dia destes te apetecer voltar para os meus braços e construir um sonho comigo, podes bater à porta porque estarei por aqui, mergulhada numa paz tranquila e nova que me ensinaste sem saber. O amor é mesmo assim: damos aos outros o nosso melhor sem sequer o saber. E tudo o que damos nunca se perde, nada se perde, apenas se transforma e se guarda numa caixa que só o futuro conhece e desvenda. (…) Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se ela não vem ter connosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver.”

Margarida Rebelo Pinto

Elogio ao Amor

“Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

(Miguel Esteves Cardoso)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Todo o presente espera pelo passado...




...para nos comover

Há vária gente que não gosta de evocar o passado. Uns por energia, disciplina prática e arremesso. Outros por ideologia progressista, visto que todo o passado é reaccionário. Outros por superficialidade ou secura de pau. Outros por falta de tempo, que todo ele é preciso para acudir ao presente e o que sobra, ao futuro. Como eu tenho pena deles todos. Porque o passado é a ternura e a legenda, o absoluto e a música, a irrealidade sem nada a acotovelar-nos. E um aceno doce de melancolia a fazer-nos sinais por sobre tudo. Tanta hora tenho gasto na simples evocação. Todo o presente espera pelo passado para nos comover. Há a filtragem do tempo para purificar esse presente até à fluidez impossível, à sublimação do encantamento, à incorruptível verdade que nele se oculta e é a sua única razão de ser. O presente é cheio de urgências mas ele que espere. Ha tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz. Sobretudo quando ao futuro já se lhe toca com a mão. Há tanto que ter vida ainda, quando já se a não tem...

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 5'

Let it rain ...



Let it Rain - Amanda Marshall


"I have given, I have given
And got none
Still Im driven by something I cant explain
Its not a cross, it is a choice
I cannot help but hear his voice
I only wish that I could listen without shame
...
I have been a witness to the perfect crime
I wipe the grin off of my face to hide the blame
It isnt worth the tears you cry to have a perfect alibi
Now Im beaten at the hands of my own game
...
It isnt easy to be kind
With all these demons in my mind
I only hope one day Ill be free
I do my best not to complain
My face is dirty from the strain
I only hope one day Ill come clean
...
Come take my hand
We can walk to the light
And without fear
We can see through the darkest night
...
Let it rain
Let it rain on me
Let it rain, oh let it rain
Let it rain on me
"


"Nas relações amorosas o único sentimento que não funciona é o da piedade. Quando é o caso de que se devesse manifestar, o que surge não é a piedade mas o asco ou a irritação. Eis porque em relação alguma se é tão cruel. Todos os sentimentos têm o seu contraponto. Excluída a piedade, a crueldade não o tem. Por experiência se pode saber quanto se sofre quando não se é amado. Mas isso de nada vale quando se não ama quem nos ama: é-se de pedra e implacável. Decerto, tudo se pode pedir e obter. Excepto que nos amem, porque nenhum sentir depende da nossa vontade. Mas só no amor se é intolerante e cruel. Porque mostar amor a quem nos não ama rebaixa-nos a um nível de degradação. E a degradação só nos dá lástima e repulsa. A única possibilidade de se ser amado por quem nos não ama é parecer que se não ama. Então não se desce e assim o outro não sobe. E então, porque não sobe, ele tem menos apreço por si, ou seja, mais apreço pelo amante. O jogo do amor é um jogo de forças. Quanto mais se ama mais fraco se é. E em todas as situações a compaixão tem um limite. Abaixo de um certo grau a compaixão acaba e a repugnância começa. Assim, quanto mais se ama mais se baixa na escala para quem ao amor não corresponde. "

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 3'

terça-feira, 2 de setembro de 2008

« Tocas no rosto enquanto o ar não sai
Inspiro sem medo do acto que vem
Envolvo os pés com as mãos
Do toque nasce a nossa ilusão

Desenhas os risos de um novo medo
Que o peito demonstra sem qualquer sossego
Faz tempo que a culpa se foi
Ficámos de pensar só depois
Do erro.

Já pouco nos resta fechar os olhos
Escondemos actos sem qualquer receio ou angústia
Que nos prende a vontade de sentir
O corpo com prazer

Rasgas-me a roupa sem qualquer pudor
Enquanto buscas o ar pela boca
Passeias o teu cheiro no meu corpo
Por entre os braços misturo tudo
Após o prazer ficaremos mudos
Sem saber
Se é por uma noite

Grito o teu nome sem saber
Como será o amanhã

Foi um sonho real
Por uma noite »


Klepht - Por Uma Noite

domingo, 3 de agosto de 2008

Há algo que me irrita profundamente. As pessoas aproximam-se de mim quando mais lhes convém. Obtêm o que querem e simplesmente desaparecem como o fumo. Na minha verdadeira inocência e pura consciência acho que não é possível as pessoas me usarem... Ninguém está aqui, neste mundo, para isso... Estamos cá para viver, para sermos felizes e fazermos os outros felizes também... Logo, somos moedas de troca sim, mas com o devido RESPEITO. Mas há gestos que são repetidos muitas vezes e que magoam... Apesar de já ter dito que me magoam as pessoas fazem de novo. E é isso que não entendo... Porquê? Para quê essa falta de respeito para comigo? Algum dia fiz o mesmo? Se não sou um objecto, se não sou vulgar, porquê isto? Por isto e muito mais duvido das palavras que saem da boca dessas pessoas. Não percebo porque acontece isto. Não sei se gostam de me irritar ou se não aprendem com os erros. Não há gestos que fiquem em sintonia com as palavras. Odeio. É horrível tentar perceber alguém assim! Às vezes só queria que as pessoas se pusessem na minha pele para me perceber! Fico completamente doida. Absolutamente triste.

É para ti, para ti e para ti. É para ele, para ele e para ele... Enfim.. é para quem conseguir enfiar a carapuça!

sábado, 28 de junho de 2008

Pablo Neruda


Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,

sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...




Pablo Neruda - Talvez
Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.

Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefónica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.


Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

Carlos Drummond de Andrade - Reverência ao destino

O seu santo nome - Carlos Drummond de Andrade

Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.

O seu santo nome - Carlos Drummond de Andrade

Cecília Meireles - Tu tens um medo

Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efémero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno.


Cecília Meireles - Tu tens um medo