"(...)mas o jogo da sedução tem regras. Uma delas é saber que quem queima vai ser queimado. Não há cu que escape. O meu não escapou...
Quando apanho gente que diz que não está para se apaixonar ou, pior, que "não tem tempo", rio-me. A paixão controla-se, mas só até um certo ponto. Depois somos todos um fiasco ou uns garanhões. Quando me separei para ir viver o meu jogo, seduzida que estava, deparei pela primeira vez com o fracasso. Eu julgava ter o meu apaixonado 'na mão', mas ele, sem rodeios, deu-me com os pés. Ainda bem, penso eu agora, e não é uma saída airosa para a desgraça passada. O rapaz serviu só para eu me lançar no mercado e nunca seria um bom companheiro (nem amante!) para mim. Ainda há dias dizia a uma amiga desgostosa com o amor: porque é que não havemos de olhar para o fim das relações como o início de qualquer outra coisa significativa nas nossas vidas? Porque é que o fim tem de ser sempre a desgraça, a fossa, o abismo? (...) Estarei a ficar 'freak' com estes pensamentos? O que é certo é que a minha amiga não tugiu nem mugiu. Deve ter pensado: "É muito fácil pensar, mas passar por elas..."
Eu já passei por elas e por eles e, olhando para trás, o que vejo é sempre a mesma história, os meus erros, a mesma ansiedade. Repetimos até à exaustão o que julgáramos já ter aprendido. A paixão cega e, pior de tudo, torna-nos vulneráveis. Esse estado de graça que pode ser a vulnerabilidade tem o seu quê de trágico quando não é correspondido. Dois amantes vulneráveis e em paixão equitativa choram e vêem o mundo de outra forma. Quando só um deles está frágil, o mundo pode ser um lugar muito injusto. Essa coisa da vulnerabilidade, que nos homens se disfarça melhor, nas mulheres é uma catástrofe. (...)
A vulnerabilidade é um vírus. E os cientistas ainda não descobriram a cura que nos salve. Ainda assim, antes doentes que sem tempo para amar."