sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

What About Now?


Há coisas que eu não posso mudar. E essa é a única razão do meu medo. Eu tenho inevitavelmente que ser aceite assim, como sou. É devastador sentir-me castigada ou rejeitada com o abandono do amor por simplesmente ser como sou. O facto de eu ser assim não é fruto de alguma decisão que eu tenha alguma vez tomado na minha vida... Por mais que saiba que não sou culpada, sou punida como tal. E eu preciso de sentir que existe alguém que não me culpa por isso. Preciso que me aceite como sou e que não tente entender. Não faça perguntas. Cada vez mais essa necessidade me aperta o coração e atormenta a minha alma. De qualquer forma, esta necessidade está a tornar-se, a cada dia, mais e mais específica. Já não consigo aceitar que alguém simplesmente tente fazê-lo. Eu própria escolho quem quero que me aceite... Eu sei que estou errada, que deveria abrir mais portas... A probabilidade de ser aceite por alguém iria aumentar... Mas será mesmo tão errado assim querer SÓ aquela pessoa? E relendo a minha última frase percebo que repito até à exaustão o mesmo erro de sempre: Eu tenho muito medo de perder algo que nunca foi, é ou chegará a ser meu: a outra pessoa. Reescrevo: Será mesmo tão errado querer SÓ o amor daquela pessoa especificamente?

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(Acho que) (também) Tenho Saudades.

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DIZER NÃO!

"Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.

Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.

Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.

Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.

Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.

Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.

Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.

Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenarmo-nos em gado sob o comando de um pastor.

Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.

Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.

E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade. "

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'